Estou em tempo de repensar o futuro, assistindo às conferências do ciclo Mutações, na Academia Brasileira de Letras, organizado já há 11 anos pelo filósofo e professor Adauto Novaes, que nesta edição tem tema retirado de frase de Paul Valéry: O futuro não é mais o que era.
Na verdade, fomos educados para um futuro que não veio. O mundo mudou de tal forma que nos pegou desprevenidos. Não estávamos preparados para mudanças tão radicais. Costumava dizer para meu pai que ele tinha nos educado, a mim e a meus irmãos, muito mal exatamente por que tinha nos educado muito bem. Parece contraditório mas não é. Os valores que aprendemos não são mais os deste mundo dominado pela tecnologia, descartável e apressado, em que a experiência vale muito pouco.
Mas, voltando ao presente, as conferências, todas as segundas, terças e quartas, têm sido muito interessantes: debatem exatamente a ideia do tempo acelerado na modernidade, em que o presente é substituído pelo imediato, pelo provisório, e propõem uma investigação sobre a percepção do tempo na contemporaneidade a partir de inspirações filosóficas de pensadores clássicos, como Paul Valéry, Merleau-Ponty, Kierkergaard e Nietzsche. José Miguel Wisnik falou sobre a (Des)construção do futuro - a ideia do futuro como uma construção imaginária que limita as potencialidades do presente; Olgária Matos, da lei do efêmero, da vanidade das coisas e da grandeza do instante, baseados no fetiche da inovação e na ideologia das performances, dos resultados e das buscas de recordes; e Sergio Rouanet denominou sua conferencia de Tempo, tempo, tempo, inspirado em Caetano Veloso: segundo ele, o tempo passado sucumbe à amnésia, pois não se pode rememorar um mundo destituído de experiência; o tempo presente está dividido em duas parcelas - tempo de trabalho e tempo de lazer; o tempo futuro, bloqueado por uma ideologia que concebe o novo sob a forma do arcaico, tempo do sempre igual, em que tudo muda, para que nada mude. Hoje, Renato Lessa vai falar sobre a Arqueologia da espera. Vamos esperar para ver o que ele tem a dizer...
Enquanto as conferências não começam, fico curtindo a exposição, no mesmo andar da ABL, sobre os cem anos de Jorge Amado, nosso bem-amado escritor.
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