segunda-feira, 29 de junho de 2009

Virando a mesa

Sempre gostei muito de me sentar em volta da mesa . Para conversar, para trabalhar, para beber e/ou comer junto com amigos. Acho aconchegante. Melhor do que qualquer sofá da sala ou divã de psicanalista. Me sinto bem, mais livre. E foi em volta de mesas que escrevi meus livros, conversei com meus filhos, tomei muitas das decisões mais importantes de minha vida e joguei também muita conversa gostosa fora.

Escolhi o restaurante Sagrada Família, aquele casarão antigo da Rua do Rosário, para encontrar Selma Guedes e minha irmã Sylce antes de irmos ver a exposição do Yves Saint Laurent,no Centro Cultural Banco do Brasil. Comemos um gnocchi com carne assada ao molho ferrugem regado a cervejinha gelada. E rumamos para o cafezinho e a expo no CCBB, curtindo aquele clima meio Lisboa, meio Paris do centro da cidade, que eu adoro. Até o friozinho ajudava.


A exposição Yves Saint Laurent, uma viagem extraordinária, que comemora o Ano da França no Brasil, com curadoria da Fundação Pierre Bergé, o companheiro fiel e inseparável de Yves, é emocionante. O filme, de quase duas horas, apesar de longo, imperdível. Seu último desfile, com um resumo de suas criações, dá bem a medida de seu gênio. Na passarela, Carla Bruni, linda, Jerry Hall, a ex de Mike Jagger, Naomi Campbell. A série de smokings, sua grande criação, é de deixar a gente sem fôlego.


As capas de noite divinas. E os longos? Maravilhosos. Os bordados, um delírio. E as bijoux? Capotantes. E, no final, Catherine Deneuve, a grande amiga, cantando para ele. A entrevista, com os olhos sempre baixos, a dimensão de sua personalidade. Tímido, reservado, um pouco assustado, até.



As roupas expostas mostram as influências em suas coleções da África, especialmente do Marrocos,onde tinha uma casa em Marrakesh, toda azul, com jardins lindos, que conheci; da Ásia - Japão, China e Índia -; de países da Europa, como Espanha, Rússia. Os desenhos espalhados pelo hall do CCBB reproduzem os cartões que Saint Laurent enviava para os amigos, sempre com a palavra Love. Dá para conferir até o dia 19 de julho.


No mesmo CCBB, a exposição Virada russa, outra maravilha. São 123 obras de Kandinski, Chagall (na foto, a insustentável leveza do amor, pelo mestre), Maliévitch e outros precursores do modernismo, incrível o que fizeram ainda no início do século passado!, pertencentes ao acervo do Museu Estatal de São Petersburgo. Parace que foi ontem... Você tem até 23 de agosto para ver.


Em torno da mesa do Terzetto, em Ipanema, reencontrei Nina Chavs, uma de minhas primeiras chefes. Com ela, aprendi tudo o que sei. Fui sua eterna interina, quando viajava, quando se mudou para Paris e continuou com seu espaço em O Globo, no Ela que ela criou e pouca gente sabe. Foi bom recordar aqueles tempos tomando vinho e degustando uma boa massa, num começo de tarde frio para os termômetros cariocas. A última vez que tínhamos nos visto foi também em torno da mesa, no Les Deux Magots, em Paris, com o mesmo vinho e uma salada com queijo de cabra deliciosa. E é impressionante como parece que o tempo não passou, como a conversa flui como se fosse ontem, quando a gente tem afinidades como eu e Nina sempre tivemos. Com ela, aprendi também a amar as viagens e a desejar conhecer a Grécia, sua paixão. Desejo realizado, viagens muitas feitas, estávamos ali de novo, celebrando estes novos tempos.

No Gula-gula, o restaurante preferido de minha filha Ana Luiza ,– ela tem que ir lá todas as vezes que vem ao Rio -, aquele ali da Henrique Dumont, charmosíssimo, almocei com Ignez Ferraz e Múcia Juliano. Escolhemos uma mesa na varanda e pedimos a caipiroska que sempre curtimos quando nos encontramos. Rimos muito com as histórias de Ignez, recém-separada.

Neste domingo, antes do jogo do Brasil - que delícia aquela vitória de virada, lavou a minha alma! - , fui almoçar no Mamma Rosa, restaurante aqui de Laranjeiras, com meu filho Paulo Tasso e a namorada dele, Érica. Naquela varanda, onde sempre me sentava com minha mãe e meus filhos quando crianças,vieram as lembranças e a saudade com gostinho de vinho e fetuccini à carbonara.

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